Uma Hora

By | 01:25 Leave a Comment
Uma Hora é um conto, de temática adulta, sobre o encontro de um homem com uma prostituta.

Colagem com recortes de imagens de peles tatuadas com relógios - Bira, 28-11-15.

Uma Hora

[Essa obra é ficção. Qualquer semelhança é mera coincidência]

Seria apenas mais uma hora fazendo sexo naquele local. Um lugar aonde José chegava sorrateiro, no limiar da noite, e entrava rápido, para não ser visto. Um lugar que tinha um bar e um salão, onde as mulheres caminhavam seminuas, na semi-luz que esconde os defeito da pele.  

Quase todas aquelas mulheres aparentavam querer transar com José. Isso lhe emprestava um poder que nunca teve fora de locais como aquele. Desde adolescente que José enxergava as mulheres bonitas e sensuais pelas lentes imaginárias de um binóculo, elas estavam perto da visão e longe do seu toque. Naquela época, não tinha dinheiro para se vestir, fazer lanches ou passeios. Ele se sentia diminuto. Admirava um amigo que já era adulto e namorava muitas mulheres. Esse amigo também admirava o jovem Zé, que sempre tinha uma carta na manga, mesmo que não tivesse mangas além daquelas penduradas na árvore. Foi esse amigo que lhe deu um conselho: "Você tem que saber dar prazer a uma mulher..." e lhe emprestou um livro chamado O Homem Erótico. Aquela leitura desvendava as áreas erógenas do corpo feminino, sedentas do toque de um homem nem sempre habilidoso ou preocupado em dar prazer. Instruía o leitor nos elogios que o amante deve fazer à mulher... Zé leu o livro e prometeu que seria um bom amante, logo que isso fosse possível.

Quase quatro décadas passaram. Agora, cinquentão, José só queria uma hora de carícias com alguma moça bonita daquele salão, onde entrou sorrateiro. A noite, no entanto, não era das melhores. As mulheres dali não despertavam seu interesse. Foi até o bar, voltou com uma garrafa de água mineral e a sede de ir embora. Talvez fizesse isso depois de beber todo o líquido. Goles depois, notou uma Moça se aproximar e permanecer parada quase ao seu lado. Era uma mulher pequena no tamanho, no rosto e nos olhos. Disse algo para ela e sua boca pequena respondeu com um sorriso de mesmo tamanho, como quem dissesse, sutilmente: "Não vou abrir meu sorriso a troco de migalhas!". José sentiu que tinha diante de si um mistério não revelado no livro que lera quando adolescente.

Seria apenas mais uma hora fazendo sexo naquele local. Mas as outras mulheres que ali fazem sexo não têm o mesmo mistério do sorriso daquela Moça. Todas elas esvaziam seus olhares, depois cobrem tudo com maquiagem, para se protegerem de seus clientes algozes. Somente a Moça incitou José a mergulhar atrás dessa tinta que cobria seu rosto e sua alma. Mais do que fazer sexo, José trafegou pelas vias do corpo da mulher pequena. Mergulhou a língua naquela boca, que finalmente se abriu para sorrir e gozar. O José adolescente que idealizava as mulheres, realizava-se de novo, nos tempos de um cinquentão. Mesmo depois de ter amores... Mesmo depois de viver histórias de paixão... Ultimamente, José,  arranjava desculpas para fazer sexo pago, dizendo para si mesmo que iria relaxar. Talvez José ainda procurasse pelo sorriso que encontrou naquela Moça. Talvez não, pois se embrenhava no local mais improvável para que isso acontecesse... Vai entender José!... O cara que, como diz a própria Moça, mistura seriedade com comicidade naquilo que fala, confundindo seu interlocutor. Mas o coração de José é delator da verdade, batendo forte no peito... Espancando o próprio peito, como se ali não residisse o José. 

Quando José vai embora, a Moça procura outros homens... Ela está ali para isso. Ela seguirá atirando meios sorrisos, na semi luz que não consegue enturvar sua pele clara. Outros Josés, como aquele, ela sabe que não vai encontrar... 

Gostaria de ter falado mais sobre a Moça, mas sei muito mais sobre o José. Foi na mente dele que colhi dela o olhar. Um olhar de quem não acredita na existência de um José, mesmo lhe tendo diante dos olhos...

Gostaria de encontrar um desfecho para essa postagem, mas já deu uma hora e meu tempo acabou...

Abraços!
Bira.


Postagem mais recente Página inicial

0 comentários: